Baunilha do Cerrado

 

A baunilha do Cerrado (Vanila edwalli), também conhecida como baunilha banana, possui raízes grossas e aéreas, sementes crostosas, folhas ovais em forma de lança e de cor verde escura. As flores são verde-amareladas, e o fruto - a ‘fava’ da baunilha - mede de 20 a 25 cm de comprimento e tem o formato alongado. Possui aroma complexo, superfície oleosa e é suave no toque. De hábito terrestre, subindo nas árvores apoiada por raízes aéreas. Cresce mais em árvores frutíferas e em locais frescos próximos de água, como brejos.

 

Encontrá-la não é tarefa fácil. O cultivo, assim como o da sua variação africana, demanda muito trabalho e luminosidade intensa. Cada flor dá poucas favas por ano, e a extração precisa ser feita delicadamente. As favas são colhidas ainda verdes e passam por um longo processo de secagem, maturação e fermentação, que chegam a durar meses antes delas se transformarem nas conhecidas favas marrons e adocicadas. Por causa da curta duração de suas flores, a polinização precisa ser manual, dentro de um período muito curto que pode chegar a apenas algumas horas. 

 

A baunilha do Cerrado tem uma relação forte com a história da cidade de Goiás (também conhecida como Goiás Velho). Por lá, é muito usada como planta medicinal, bastante requisitada para tratamento de tosses e pneumonia, em chás e xaropes. Os moradores mais antigos de Goiás Velho estão mais familiarizados com a baunilha e sua importância para a história local do que a população jovem. Por ser encontrada apenas em áreas específicas de matas próximas à Serra Dourada, em volta de cidade, poucos 'apanhadores' - pessoas que vivem em chácaras na região - conseguem localizá-las e vendê-las. Alguns moradores têm a planta em casa, em quintais, mas para consumo na própria família ou venda de xaropes.

 

A baunilha é utilizada na culinária há pelo menos 400 anos. As vagens têm sabor adocicado e intenso, sendo essa a segunda especiaria mais cara do mundo, atrás apenas do açafrão espanhol. Normalmente cultivada em Madagascar e países do leste asiático, como Papua Nova Guiné, o tradicional ingrediente encontrou um concorrente de peso no Cerrado. A versão brasileira é excelente aromatizador de diversos tipos de alimentos, sobretudo doces como sorvete, chocolate e bolo. Além de conferir sabor, atua também na conservação dos ingredientes. É bastante requisitada também na perfumaria. A baunilha do Cerrado  foi catalogada pelo movimento Slow Food na iniciativa Arca do Gosto, um cadastro mundial que descreve e divulga sabores ameaçados de extinção, mas ainda vivos e com potenciais produtivos e comerciais reais.