Fera Palace Hotel reconstitui com modernidade e
referências profundas o passado vibrante de Salvador
O ano era 1934. No Centro Histórico de Salvador, mais precisamente na rua Chile, a primeira do Brasil (de 1549), surgia o Palace Hotel como exemplar absoluto do art déco no país, urdido nos moldes do Flatiron Building, de Nova York, e praticamente colado ao icônico Elevador Lacerda, de mesmo estilo. Destino dos endinheirados locais à época, o endereço a 500 metros do Pelourinho e da igreja de São Francisco, vivia seus dias de glória - para se ter uma ideia, o hotel era o destino incontornável de Pablo Neruda e Orson Welles em suas incursões na capital baiana. Mas como acontece frequentemente nos ciclos urbanos, a partir do fim dos anos 1970 um processo de decadência se instalou por ali.E perdurou por quase 40. O período de ostracismo foi quebrado em 2017, com a chegada do Fera Palace Hotel, que devolveu aquela jóia da década de 1930 à cidade.
O grande responsável pelo resgate é o empreendedor mineiro Antonio Mazzafera, à frente da Fera Investimentos, um grande apaixonado por Salvador, ao lado do empresário de moda Marcelo Lima. A expertise de Mazzafera no universo da hospitalidade vem de longe, do período como diretor do Savoy Group (Claridge’s, The Berkeley e The Savoy...), em Londres. “O nível de exigência dos nossos hóspedes era altíssimo – Bill Gates, Madonna, Bono Vox. A atenção aos detalhes e o trabalho árduo para atender aos anseios dos clientes é o que faz um hotel ser de luxo.” No caso do Fera Palace, o luxo aparece sobretudo na "vibe" do hotel, que se propõe (e cumpre durante toda a experiência) um lugar despretensioso e acessível. “Eu sempre vi e o vejo como um espaço frequentado pelos baianos e turistas que querem se hospedar, tomar um drinque, almoçar ou socializar num ambiente descolado.”
Sob o comando do arquiteto dinamarquês Adam Kurdahl, do Spol Architects - com sedes em São Paulo e Oslo -, os projetos para a recuperação da área total de 6.100 m² do prédio tiveram início em 2012. As obras começaram em outubro de 2014. Os números são superlativos: 629 janelas e 205 adornos art déco foram cuidadosamente recuperados, além de 2.100 m² de parquets originais. Já os 601 pilares de sustentação do edifício receberam reforço manual. Tudo para viabilizar a piscina de 25 metros no terraço, com vista para a mítica Baía de Todos os Santos, ontem estão também um bar e o lounge. Desenvolvido com o Iphan, o revestimento da fachada reproduz o mesmo utilizado no começo do século passado.
O profundo estudo realizado por Kurdahl com os elementos históricos e constitutivos da Bahia –como linho, coco e cacau –, ditam sutilmente a aclimatação dos ambientes, sem deixar de lado o onipresente art déco, presente, por exemplo, na geometria do piso do lobby-bar; nas cores rosa, verde e turquesa que colorem as paredes dos 81 quartos e suítes - adornados pelas fotografias de Akira Cravo -, e nos móveis que levam diversos tons de madeiras em desenhos criados para o hotel.
Do antigo cassino, convertido em área para eventos, restou a roleta, agora alocada no novo restaurante Omí, comandado pelo casal de outro da gastronomia soteropolitana, os chefs Fabrício Lemos e Lisiane Arouca (também à frente do Ori e do Origem), desde fevereiro. O espaço foi originalmente batizado como Adamastor (em alusão ao pai do cineasta Glauber Rocha) e ainda teve um segundo nome, Lina, em homenagem à artista Lina Bo Bardi.
O restaurante
Como sugere o novo nome da casa (água no dialeto iorubá), o menu aposta nos frutos do mar e pescados. “Trouxemos um alinhamento entre simplicidade e valorização dos insumos oriundos da nossa região que é de uma riqueza enorme”, explica Fabricio.
O menu do Omí apresenta opções de entrada como lula e polvo crocantes, "robalo marinado com sorvete de manga verde" e o croquete de carne de panela com o dito "fumeiro maragogipano" (uma carne curada típica da Bahia). Entre os pratos principais, "lagosta ao molho béarnaise com nhoque ao porcini gratinado" e "moqueca de camarão com maturi e arroz de coco". Acima de tudo, paira a proposta que os chefs definem como “o frescor do alimento direto do mar para a nossa mesa”.
A proposta de ocupação do Fera, segundo Lemos, se estende ao lobby bar, com opções como um hambúrguer feito com peixe. Já a carta de coquetéis está a cargo da bartender Isadora Fornari que, para além dos autorais, não deixou de fora drinques clássicos como Negroni e G&T preparados com YVY Mar.
Com o Fera, mais do que nunca, a Bahia te espera!
Fera Palace Hotel – R. Chile, 20, Salvador; diárias a partir de R$ 800 (para duas pessoas com café da manhã. Ferahoteis.com

Fera Palace Hotel

Fachada restaurada do Fera Palace Hotel


Restaurante Omí

Os chefs Fabrício Lemos e Lisiane Arouca

Arroz frito de frutos do mar

Chips de lagosta com molho bernaise