A biodiversidade brasileira se transforma em destilados repletos de histórias e sabores

 

Sócio-fundador da YVY, André Sá Fortes fala sobre a trajetória e as novidades da marca

 

Da interseção entre a riqueza étnico-cultural brasileira e a vasta biodiversidade de cada região do país, nasceu a YVY, destilaria artesanal mineira que produz destilados únicos e repletos de ótimas histórias e muitos significados. A marca, cujo nome vem do tupi-guarani e quer dizer literalmente “o chão que pisamos”, tem a missão de traduzir em forma de bebida algumas iguarias que simbolizam a formação da identidade cultural brasileira, os saberes ancestrais dos povos nativos, a influência dos imigrantes de várias nacionalidades, a miscigenação e os caráteres distintivos presentes em cada canto do país. 

A trajetória da YVY começa em 2016, quando o empresário André Sá Fortes, deixou a sociedade do bar MeetMe, que era bastante conhecido em BH pela coquetelaria, e começou um estudo mais aprofundado das bebidas destiladas. Naquele momento, ele percebeu as limitações por que passavam os bartenders para exercer seus processos  criativos. Não havia bons rótulos nacionais, ou as opções importadas existentes  eram inviáveis pelo preço.  Então, resolveu empreender a partir da própria experiência e do que concluí ser uma lacuna de mercado. Um critério o norteou desde o começo: não seguir o caminho mais fácil e superficial, surfando apenas numa tendência. Então, rumou para Londres, berço dos melhores gins do mundo. Foi aprender, adquirir propriedade para entender como são feitos alguns dos mais interessantes rótulos do planeta.  Lá, conheci Darren Rook, especialista no assunto e consultor na criação de diversas bebidas e destilarias em vários países. Deste encontro, veio a escalação ideal para o surgimento do DNA miscigenado da YVY: uma bebida inspirada nos grandes rótulos do mundo, surgida das mãos de autoridades no assunto, mas essencialmente brasileira. 

Nesta entrevista, André fala sobre a própria trajetória, a história da YVY, as novidades e os planos para um futuro (muito) próximo. 

 

Conte um pouco sobre a sua trajetória antes da YVY. Quais foram seus primeiros passos, o que o levou a montar um bar (MeetMe)…

Meu pai e os quatro irmãos dele sempre foram sócios de uma indústria de alimentos razoavelmente grande e diversa, que produzia variedades de enlatados, leite em pó, merenda escolar... Quando criança, eu passava muito do meu tempo na fábrica,  sempre visitava. Conhecia tudo: a câmara frigorífica, os fornos, as máquinas de envase. Os funcionários me viram crescer, eu brincava muito no meio daquilo tudo, fazia castelos nas pilhas de leite em pó. Aquele ambiente industrial permeou toda a minha infância. Depois, um pouco mais velho, me afastei deste universo. Na época da faculdade de publicidade, voltei a trabalhar com meu pai e meus tios, e acabei me reaproximando deste mundo alimentício. Mas não tinha um plano de seguir carreira ali. Sou muito criativo, meu interesse sempre foi buscar tendência e inovação. Enfim, queria seguir o meu caminho. Em 2016, quando eu estava me formando na universidade, meu pai faleceu. A partir dali, afloraram a vontade e o desejo de trabalhar com alimentos, muito pela necessidade de me sentir mais próximo dele  de alguma maneira. Inclusive, cheguei a fazer um curso técnico em gastronomia, não com a intenção de atuar como cozinheiro, mas para entender melhor e com mais propriedade este universo, toda a parte de desenvolvimento de cardápio, de produtos, de transformação dos ingredientes. Estagiei em alguns bons  restaurantes aqui de Belo Horizonte e, na sequência, fui trabalhar na Califórnia. Eu tinha muito interesse pela cozinha fusion, peguei o início do movimento dos food trucks nos EUA. Trabalhei com alguns dos precursores dessa onda toda, e foi importante pra eu desenvolver o cardápio e  o conceito do Meet Me, meu primeiro bar e o embrião do meu trabalho com bebidas. O Meet Me teve muito destaque no cenário da coquetelaria de Belo Horizonte. Na época, eu ainda tive um restaurante mexicano, o El Camino, que eu vendi.

 

Como surgiu a ideia de criar uma destilaria?

Foi em 2016, ainda na época do MeetMe. Naquele momento, eu percebi as limitações por que passavam os bartenders para exercer seus processos  criativos. Não havia bons rótulos nacionais, ou as opções importadas existentes  eram inviáveis pelo preço.  Então, resolvi empreender a partir da minha própria experiência e do que concluí ser uma lacuna de mercado. Um critério me norteou desde o começo: não seguir o caminho mais fácil e superficial, surfando apenas numa tendência. Fui para Londres, berço dos melhores gins do mundo. Fui aprender, adquirir propriedade para entender como são feitos alguns dos melhores rótulos do planeta.  Lá, conheci o Darren Rook, especialista no assunto e consultor na criação de diversas bebidas e destilarias pelo mundo. Deste encontro, veio a escalação ideal para o surgimento do DNA miscigenado da YVY: uma bebida inspirada nos grandes rótulos do mundo, surgida das mãos de autoridades no assunto, mas essencialmente brasileira. 

 

A YVY fala muito sobre o Brasil, tanto pela questão geográfica (Território, expedições pelos biomas) quanto pela abordagem das manifestações artístico-culturais e da diversidade humana. Como surgiu esse caminho para a marca? Qual seu interesse ou relação pessoal com todos estes assuntos?

Na minha opinião, uma das coisas mais interessantes na forma como o mundo vem se globalizando é essa mistura de diversas formas de expressão da cultura humana. Arte, gastronomia, música... Acho muito legal como o mundo tem se misturado, e como as coisas novas estão surgindo, muitas vezes inspiradas em métodos antigos, tradicionais. O Brasil é um  exemplo fabuloso disso, nosso povo e nossa cultura nasceram da miscigenação. Para mim, isso deve ser exaltado, enaltecido, valorizado e protegido. Este é um sentimento que eu sempre tive, e quando criamos a YVY foi muito natural que a marca refletisse tudo isso. 

Importante ressaltar que as viagens que fizemos pelos seis biomas do Brasil nos transportaram para realidades que a gente não conhecia, verdadeiras e muito amplas. Conhecemos muita gente diferente, histórias lindas. Tivemos contato com ingredientes, culturas e tradições que não tínhamos ideia de como eram na essência. Todas estas experiências criaram um vínculo muito maior com este sentimento de Brasil, as vontades e anseios de valorizar o país se tornaram maiores e ainda mais potentes. 

 

Como você contextualiza a YVY atualmente? Tem a Destilaria, o Herbário, os Territórios...

Acredito que a YVY seja hoje a destilaria mais verdadeiramente brasileira. Para além de uma destilaria que nasceu no Brasil, nós tentamos representar de forma verdadeira e fiel, aos nossos olhos, através da nossa bebida, o que conhecemos do país. Através de Mar, Terra e Ar, estamos desenhando um retrato amplo da complexidade que é o Brasil. 

Ainda somos bebês, estamos crescendo e maturando como negócio, construindo nossa cultura organizacional. Temos três braços principais: 'YVY Destilaria' é a indústria, de onde saem os nossos maiores produtos; 'Territórios' abrange nosso trabalho de fortalecimento da cadeia produtiva, pesquisa, conexão e aproximação com os pequenos produtores e toda a etnobiodiversidade brasileira; e o Herbário é o nosso laboratório de investigação e desenvolvimento, onde toda a nossa pesquisa de campo culmina, onde temos contato com o público e a oportunidade de testar e apresentar ideias novas. São três projetos que crescem lado a lado e estão evoluindo cada dia mais. A gente tem conseguido amarrá-los melhor, deixá-los mais próximos, mais bem conectados e harmônicos. Cada um, à sua maneira, tem abrangência nacional. Com a Destilaria, mandamos os produtos para o Brasil todo; em Territórios a gente se conecta com pessoas e ingredientes de todos os cantos; e a ideia é ter Herbários em várias regiões do Brasil. 

 

De onde surgiu a ideia de uma Trilogia de gins? 

Desde o princípio, definimos que a YVY seria uma destilaria mais ampla, não apenas de gim. Mas que os primeiros lançamentos seriam para apresentar a intenção da marca, de uma representação de Brasil para os brasileiros e para o mundo. Um Brasil complexo, amplo e cheio de valor. Percebemos que seria impossível representar toda a diversidade de pessoas e ingredientes em um gim só. Por isso, decidimos contar uma  história que fala de imigrantes (Mar), dos povos nativos do Brasil (Terra) e do brasileiro contemporâneo miscigenado (Ar). A intenção é mostrar estas três faces e momentos do povo brasileiro. 

 

Para você, o que não pode faltar na produção de um bom gim?

Tecnicamente,  para um bom gin precisamos de um bom zimbro. A gente pensa muito na YVY que quando se decide fazer um gim,  você precisa fazer um 'líquido' de ótima qualidade. Mas para dizer que o produto como um todo é bom, é fundamental ter cuidado com a escolha dos fornecedores e seus respectivos valores, com sustentabilidade, comércio justo, proposta de produto, embalagem… Afinal, se você teve cuidado de desenvolver um líquido maravilhoso, tenha cuidado com todo o resto. 

O legal do gim é que ele não tem muita regra de ingredientes. O que realmente faz a diferença é trabalhar a qualidade e o equilíbrio dos ingredientes que você elegeu. Uma harmonia de forma que nenhum deles se sobressaia ao outro.  

 

Mar, Terra ou Ar: qual gim mais combina com o André?

As viagens pelo Brasil me fizeram aprender mais sobre as possibilidades de sabores brasileiros. Quando lançamos a YVY, o conhecimento que eu tinha me fazia desejar sempre um London dry clássico, que é o caso de Mar. Mas hoje, Terra é o meu gim preferido sem dúvida. Não é o rótulo mais fácil, é potente, terroso, herbal, mas é interessante, ousado, com possibilidade de misturas mais audaciosas e picantes. 

 

Fale um pouco sobre a sua relação com a gastronomia, e de que maneira isso influencia na identidade dos gins da YVY.

Tenho visto que grandes  nomes da gastronomia e da bebida do mundo todo estão rompendo a barreira entre os dois universos. Isso faz todo o sentido para mim.  Tratar coquetelaria e gastronomia de forma separada não deve existir. O foco de ambas é o mesmo: trabalhar, manipular e apresentar os ingredientes da forma mais incrível e deliciosa possível. Acredito que dentro do bares, restaurantes e (no raciocínio) da própria indústria, cozinha e bar devem trabalhar em sintonia para criar produtos que façam parte de um mesmo universo. Sempre tento enxergar o desenvolvimento de cardápio e de bebida com o mesmo olhar, sempre a partir da qualidade dos ingredientes e a busca por expor o melhor deles.

 

Quais são os próximos passos planejados para a YVY?

Nós evoluímos e aprendemos muito nos últimos anos. Agora estamos passando por um processo de atualização do que é a marca, quais são os nossos objetivos. Territórios se tornou um projeto consolidado e que agora se estabeleceu como base de relacionamento com os nossos parceiros e produtores, que cada dia se torna mais forte e mais próximo. Na Destilaria a gente passa por dois momento muito interessantes: a mudança para um novo espaço, que vai nos dar a possibilidade de aumentar nosso portfólio e ampliar nossa capacidade de produção em termos de volume. Nesta nova destilaria, vamos oferecer novas experiências de bar para os nossos clientes, com serviço de comida e bebida,  como a gente já oferece com o Herbário. E falando nele, apesar dele ter ficado fechado durante quase toda a pandemia, foi um negócio que se mostrou muito consistente e sólido. Agora nós passamos para um novo momento de evolução e expansão do Herbário, tanto em termos de arquitetura quanto no que se refere a abertura de novas lojas, oferecendo para mais pessoas e mais cidades a experiência com os sabores do Brasil que a gente apresenta ali. 

 

André em uma das suas viagens pelo Brasil - Cerrado

André em uma das suas viagens pelo Brasil - Cerrado

André em uma de suas viagens pelo Brasil - Pampa

André em uma de suas viagens pelo Brasil - Pampa

Trilogia YVY - Mar, Terra e Ar

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